10 de mai. de 2016

A Ronda Noturna (De Nachtwacht)

O quadro A Ronda Noturna (De Nachtwacht foi pintado pelo holandês Rembrandt entre 1640/1642 e faz parte do acervo em exposição permanente no Riijksmuseum, em Amsterdã.

No ano de 1975, no dia 13 de janeiro, a tela foi atacada por um homem, diagnosticado com problemas mentais, que ingressou no museu com um canivete, desferindo golpes, que produziram cortes em zigzag na tela, danificando-a seriamente. Embora tenha sido restaurada com maestria, hoje ainda se pode ver rastros desse estrago na obra.

Dez anos depois, em novo atentado, um homem tentou atirar ácido na pintura, ataque esse frustrado pela segurança do museu, tendo atingido apenas o verniz, que protege a tela. Hoje esse quadro é protegido por uma vidro a prova de bala.

 A despeito do título da tela ser "Ronda Noturna", o nome original, segundo críticos, teria sido "A Companhia do Capitão Frans Banning Cocq e o Tenente Willen Ruyttenburg", conforme inscrição aposta em um esboço preparatório. 
Ainda no século XIX o quadro foi denominado como "Patrouille de Nuit", por críticos franceses da época, e "Night Watch" por Joshua Reynolds, a quem se atribui o nome atual.

Interessante observar que esse título "Ronda Noturna", advém de um equívoco de interpretação, porquanto naquela época o quadro se encontrava tão deteriorado e obscurecido pela oxidação do verniz, com sujeira acumulada, que as figuras estavam quase que indistinguíveis, parecendo a pintura uma cena noturna

Em 1947, quando foi restaurada a tela, com a eliminação do  escurecido, verificou-se que o título não se ajustava à realidade retratada pelo artista, já que a ação não se desenvolve de noite, mas a luz do dia, no interior de um pátio, em penumbra, a que chega um potente raio de luz, que ilumina intensamente os personagens que compõem a obra.

Nesta reprodução observa-se os corte nas dimensões da tela
A obra, um óleo sobre tela, foi uma encomenda da Corporação Arcabuzeiros de Amsterdã para decorar a sede da milícia, razão pela qual Rembrandt utilizou-se de uma tela de grandes dimensões, medindo originalmente 363 x 347m. No início do século XVIII a tela foi cortada para decorar uma das salas da Câmara Municipal de Amsterdã, como se vê na foto acima.

No primeiro plano da obra aparece o capitão Capitão Frans Banning Cocq  e o seu tenente Willem van Ruytenburch. A mão estendida para a frente e a boca um pouco aberta do capitão indicam-nos que está a falar e caminha sem olhar para o tenente, que escuta as suas ordens. À direita e à esquerda do portal, outras personagens conversam. A meio da tela, homens de capacetes ou chapéus, estão armados com espadas e lanças, outros ostentam escudos redondos. Alguns apoderam-se de lanças apoiadas na parede do edifício, à direita. Outros saem do portal e abrem caminho através da turba. 

Os elementos da companhia aparecem captados pelo pintor  tal qual os pôde contemplar em numerosas ocasiões no momento em que diariamente se preparavam para formar e sair  para percorrer a cidade na sua missão de vigilantes da ordem.

Há ainda em cena uma personagem feminina que se destaca: está com um vestido dourado, na mão um corno, que serve para beber, à cintura uma bolsa e um frango morto, preso pelas patas. A personagem feminina é um mistério. Embora a sua estatura não seja muito maior do que a de uma criança, ela está bem realçada no quadro, uma vez que sobre a mesma incide uma luz forte.  É uma personagem chave no quadro, não se encontra na penumbra e as sombras não a tocam. Alguns críticos vêm nesta menina um retrato de Saskia van Uylenburgh, primeira esposa do pintor, que faleceu prematuramente no ano em que foi pintada a tela, possivelmente de tuberculose. Saskia era habitual modelo de muitos dos retratos do autor.


Logo após  atentado de 1975, chocado com a notícia fiz um poema sobre esse incidente.

"A Ronda Noturna"

O mundo amanheceu
a parou estarrecido.
Fato conhecido
venceu distâncias,
ante olhos e ouvidos.

Na fria Holanda,
um louco enfurecido,
apunhalou de surpresa,
a golpes de canivete,
a ronda noturna.

Um Rembrandt
preso à parede.

Recentemente foi feita em um shopping de Amsterdã uma encenação viva da tela re Rembrandt. Assista o vídeo abaixo: