4 de nov. de 2016

O PRAZER DAS CARNES CURADAS - CARNE SECA, CHARQUE E CARNE-DE-SOL

Carne Seca

Certamente você já deve ter ouvido falar de carne-seca, carne de sol, charque, jabá, carne serenada e outras tantas denominações populares para a “carne curada”. Mas será que você sabe qual é a diferença entre elas, que carne se presta para que tipo de preparo, ou você é do tipo que acha “é tudo a mesma coisa...”.
Carne-de-Sol
Embora essas carnes guardem alguma semelhança entre si, qual seja, advém da mesma técnica culinária: a cura de carne por salga e secagem, as diferenças são grandes e se acentuam no modo de preparo, na mesa e no paladar.
Salga de Carne
A secagem por cura nasceu da necessidade do homem conservar os alimentos, mormente da carne, aumentando sua vida útil, de forma permitir seu transporte por longas distâncias. A partir dai a técnica se desenvolveu ao longo dos séculos, a princípio para permitir a conservação de carnes durante os períodos de escassez e mais tarde com o desenvolvimento e o aprimoramento da charcutaria – como explicamos na matéria sobre essa arte aqui no muro pixado -, o processo de maturação e salga foi sendo aprimorado.
O princípio é o mesmo, a carne bovina é salgada e sofre o processo de desidratação, diferenciando-se em relação ao tempo de cura de cada processo, a quantidade de sal utilizada e o local de processamento da carne.
Carne Curada
Mas é importante falarmos também do tipo de corte da carne utilizada, que pode variar entre a ponta de agulha e outros cortes dianteiros, comuns para o processamento do charque, ou a alcatra e o contrafilé, por exemplo, muito utilizados para a elaboração da carne-seca. Outros cortes da parte traseira, como o coxão duro, se prestam para a elaboração da carne de sol.
Corte Bovino
Mas aí você vai perguntar: “-Qual a diferença entre charque, carne seca e carne-de-sol?
Tapioca de Carne Seca
O charque é uma carne típica da região Sul do Brasil, cujo nome tem origem no dialeto quíchua xarqui, língua nativa dos índios que habitavam a região dos Andes. É preparada de modo similar ao da carne seca, sendo que o diferencial está na maior quantidade de sal e de exposição ao sol ao qual o charque é submetido, o que lhe garante uma maior durabilidade. É feito exclusivamente com carne bovina e o processo de salcagem é mais intenso, o que permite a sua estocagem em ambiente normal por até 4 meses, o que acentua o seu sabor e odor.
Charque Fatiado
Para preparo de um charque tradicional de qualidade é necessário, antes do mais, que a carne possua um teor de gordura considerável e os cortes em mantas, com a finalidade de ajudar no processo de desidratação. A salga é feita com sal fino – que possui um alto teor de iodo - disposto sobre toda a superfície da carne e levada a descansar por cerca de 10 dias, período em que perde grande quantidade de líquidos.

Charque Ponta de Agulha
Os cortes seguem padrões uniformes e regra geral são preparados com cortes da ponta de agulha, e em menor proporção do dianteiro bovino. Tem teor de umidade de no máximo 45% e teor máximo 15% de sal. Quando embalado a vácuo, o charque tem durabilidade de 180 dias. A cor é mais amarronzada do que a carne-de-sol. O charque é conhecido também como: “carne-seca”, “carne-do-sertão”, “xergão”, “chalona”, “xarqui”, “jabá” ou “paçoca”.
Charque


Conta a história que o português José Pinto Martins, produziu o charque pela primeira vez no ano de 1777, usando seu conhecimento em fazer carne seca, que aprendeu quando morou no Ceará, fazendo uma adaptação da receita, como forma de aproveitar a carne do gado abatido, em que se aproveitava apenas o couro.
Carne Seca
A carne seca, também conhecida como “carne-de-vento”, “carne-do-sertão”, “carne-do-Ceará”, “carne-do-Sul”, ou “jabá” (do tupi yaba ou jabau, que significa fugir, esconder-se), é esfregada com mais sal e empilhada em lugares secos. As "mantas" de carne são constantemente mudadas de posição, para facilitar a evaporação. Em seguida elas são estendidas em varais, ao sol, até completar a desidratação.~
Mignon de Carne Seca com Queijo Coealho
carne-de-sol, depois de cortada, é ligeiramente desidratada e salgada e deixada em locais cobertos e bem ventilados. É uma carne que se assemelha muito a carne fresca, durando em torno de 72/96 horas em temperatura ambiente. Pode ser utilizada também a carne de cabra para a sua elaboração, sendo muito apreciada no nordeste do Brasil. A despeito do nome, esse tipo de carne não sofre muita exposição ao sol, exigindo um clima muito seco e ventilado. O seu preparo só é possível nas regiões semi-áridas do Nordeste, o que permite uma secagem gradual e controlada, formando uma espécie de casca protetora que conserva a parte de dentro da carne úmida e macia. 
Carne Seca na Moranga

Dos três tipos de carne desidratada, a carne-de-sol é a que cozinha com maior rapidez. Também é conhecida como: “carne-de-sertão”, “carne serenada”, “carne-de-viagem”, “carne-mole”, “carne-do-vento” – nome mais apropriado para ela -, “cacina” ou “carne acacinado”.

Secagem e Salga da Carne
Atualmente a carne-de-sol é salgada e levada a secagem em local coberto e ventilado, não mais diretamente exposta ao sol, como no passado recente. A secagem é bem rápida, deixando-a inda úmida no interior, e modificando muito pouco a textura e cor originais.

 
Cortes Jerked Beef
Recentemente, um novo produto salgado surgiu no mercado consumidor, o jerked beef, cujo processamento se assemelha ao do charque, porém adicionado de nitrito e sempre comercializado embalado a vácuo, e por essa razão ambos são coletivamente denominados charques.
Jerked Beef
O jerked beef nacional tem com uma história curiosa que começa com a aceleração dos fluxos migratórios do Nordeste e crescimento da demanda por charque no Sudeste; passa por uma série de apreensões de produtos análogos, porém adulterados, e termina com a aprovação pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA), de um sucedâneo curado com nitrato/nitrito, feito de espessas mantas de carne de dianteiro e partes do traseiro bovino.
Jerked Beef
Em decorrência da demanda crescente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, os fabricantes de charque começaram, no início dos anos 70, a reivindicar a aprovação de um produto, para comercialização regional, com teor de umidade maior do que o permitido, pois este podia prescindir da alta estabilidade, só obtida na prolongada fase de secagem. Tal aprovação representaria redução de custos financeiros, aumento da produtividade das fábricas e maior rendimento do processo de elaboração.

Desse imbróglio surge, então, sem permissão legal, um análogo do charque com teores variáveis de umidade, bem maiores do que os 45% (com 5% de tolerância) permitidos. Mas este produto, que chegou a ser conhecido como “charque frescal”, ao corte apresentava uma coloração interna marrom, nada atrativa, e deteriorava-se com facilidade.
Carne Seca
É nesse ponto que entram em cena o nitrato e o nitrito de sódio, usualmente empregados no processamento de carne suína. Com esses agentes de cura, mesmo em concentrações muito inferiores àquelas dos presuntos e embutidos diversos, os fabricantes conseguiram imitar a cor vermelha do charque tradicional. Já o problema de má conservação seria resolvido mais tarde com a embalagem a vácuo. Apesar da proibição, em 1978 o Ministério da Agricultura aprovou a cura com nitrato/nitrito, mantendo, no entanto, o teor máximo de umidade em 45%, que, obviamente, jamais foi respeitado. As nitrosaminas são compostos carcinogênicos, formados nas reações químicas entre nitrito e aminas secundárias da carne.


Para diferenciar do original era preciso dar um nome comercial à imitação, ora classificada na categoria das carnes salgadas, curadas e dessecadas, e o escolhido foi jerked beef, derivado de jerky, que era como os marinheiros ingleses pronunciavam charque no século 18.

Carne Seca Desfiada - Antiquarius
Qualquer que seja o tipo de carne de sua preferência, o importante é que você saiba como dessalgar essas carnes, antes do preparo, pois todas requerem um preparo antecipado, cuidadoso, para retirada do excesso de sal.
  
O método comum de dessalga:

- deixar de molho por um dia antes do preparo, trocando a água de 6 em  6 horas

Se houver urgência: 

- Corte a carne em pedaços médios e ferva durante cerca de 5 minutos por duas vezes, trocando a água entre cada fervura. Teste o sabor e, se for necessário, de mias uma fervura. 

Arroz de Carreteiro
Arroz de Carreteiro – Receita original Gaúcha

Reza a lenda que os carreteiros, que transportavam cargas pelo Rio Grande do Sul, aproveitavam a simplicidade da viagem e a falta de geladeira para preparar charqueadas e cozinhá-las com arroz. Atualmente,  o Arroz Carreteiro é muito apreciada em todo o Brasil.

Ingredientes:

1,5 kg de charque
2 cebolas grandes
1 pimentão verde grande
6 dentes de alho
2 tomates médios
1 maço de tempero verde
5 xícaras grandes de arroz
10 xícaras e meia de água fervente
Azeite a gosto
 Modo de Preparo:
Pique o charque em cubos pequenos e cozinhe em água até que fique bem salgado, porém suportável ao paladar. Se com a primeira fervura do charque ele ainda estiver muito salgado, troque a água e o ferva novamente. Após a fervura, escorra toda a água e frite o charque em azeite.
Dica: utilize o mínimo possível de azeite, durante a fritura, a gordura presente no charque irá derreter. Pique as cebolas, tomates, pimentão, alho e o tempero verde e os acrescente quando a carne estiver dourada. Deixe tudo fritar bem, até começar a secar, adicione o arroz e frite mais um pouco.
Adicione a água fervente, mexa bem, misturando de forma uniforme os ingredientes, pois não poderá mexer mais assim que o cozimento avançar. Espere retomar a fervura, abaixe o fogo e espere secar. Sirva com salada de couve crua e ovos cozidos picados.
Rendimento: oito pessoas.
Escondidinho
Escondidinho de Carne Seca

Ingredientes

Recheio
2 colheres (sopa) de azeite
1 colher (sopa) de manteiga
80g de cebola cortada em meia-lua
Pimenta a gosto
300g de carne-seca desfiada
Salsinha fresca a gosto

Purê
2 batatas médias
2 colheres (sopa) de manteiga
100ml de creme de leite fresco
Sal a gosto
Queijo parmesão para polvilhar

Modo de preparo

Recheio
Deixe a carne-seca de molho de um dia para o outro em água fria para tirar o excesso de sal.
Depois desse período, cozinhe a carne até que fique macia. Isso pode levar de 4 a 5 horas. Em seguida, desfie tirando a gordura extra e reserve.

Em uma frigideira, esquente o azeite, junte a manteiga e espere até que derreta. Frite a cebola, ponha a pimenta e adicione a carne-seca desfiada. Desligue o fogo, acrescente a salsinha picada e reserve.

Purê
Cozinhe as batatas sem casca em água fervente. Passe-as por um espremedor e leve ao fogo em uma panela grossa. Junte a manteiga, em seguida acrescente o creme de leite fresco e mexa até que a mistura desprenda do fundo da panela.

Montagem
Coloque um pouco do recheio em um ramequim, cubra com o purê e polvilhe o queijo parmesão. Leve ao forno em temperatura bem alta para gratinar durante dois minutos. Sirva quente.

Dificuldade: baixa
Rendimento: duas porções
Tempo: 30 minutos